- O mais recente estudo do EDULOG, o think tank para a educação da Fundação Belmiro de Azevedo, alerta para as dificuldades sentidas pelos estudantes do ensino superior em Lisboa e no Porto, particularmente aqueles que estão deslocados.
- Criação de mais alojamentos subsidiados, aumento das bolsas de estudo e revisão dos critérios de elegibilidade podem melhorar significativamente a experiência dos estudantes, diminuindo o peso das despesas pessoais.
O EDULOG, o think tank para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo, divulga hoje os resultados de um estudo detalhado sobre as dinâmicas socioeconómicas e as condições de vida dos estudantes do Ensino Superior nas regiões da Grande Lisboa e do Grande Porto. O estudo analisa os principais desafios enfrentados por milhares de estudantes destas duas áreas metropolitanas e aponta condições para melhorar o bem-estar e o sucesso académico dos jovens do ensino superior.
Num contexto em que o alojamento, a mobilidade e o apoio financeiro são fatores críticos para o percurso académico dos estudantes, o estudo revela uma dependência significativa do suporte familiar para cobrir as despesas de alojamento, de alimentação e de transporte. Aproximadamente 66,5% dos estudantes da Grande Lisboa e do Grande Porto dependem da ajuda familiar para frequentar o Ensino Superior, e apenas 17,8% têm acesso a bolsas de estudo, uma percentagem considerada insuficiente para responder às necessidades da população estudantil deslocada. A maior parte dos estudantes nestas regiões provém das áreas de origem, com 59,1% a residir no local onde estudam, enquanto 38,1% são deslocados e vivem, temporariamente, nestas duas áreas sujeitas a grande pressão imobiliária.
Segundo a análise feita pelo EDULOG, dos estudantes deslocados, expostos aos custos da habitação temporária, 48% não possuem contrato formal de arrendamento e 51% afirmam que o senhorio não emite recibos de renda, o que limita o acesso a apoios específicos e cria uma grande situação de vulnerabilidade.
Embora as residências universitárias tenham um papel crucial para os estudantes deslocados, o estudo dá nota de que a oferta é insuficiente, o que agrava a dificuldade de acesso a alojamento de qualidade e a preço acessível. Apenas 3% dos estudantes que concorrem a uma vaga numa residência universitária obtêm lugar.
A satisfação com as condições de alojamento mostra-se relativamente positiva entre os estudantes que conseguem vagas em residências universitárias, principalmente no Grande Porto, onde os níveis de satisfação são maiores e refletem o acesso a condições adequadas de estudo, como a ligação à internet e o mobiliário, essenciais para uma experiência académica positiva. Na Grande Lisboa, contudo, os níveis de satisfação são um pouco mais baixos, indicando uma possível carência na infraestrutura das residências e um maior descontentamento com os custos associados.
No que diz respeito à mobilidade, o transporte público é o meio mais utilizado, com 75,4% dos estudantes, na Grande Lisboa, e 58,4%, no Grande Porto, a recorrerem a este tipo de transporte para as deslocações diárias. No Grande Porto, os estudantes deslocam-se mais a pé (18,4%) do que na Grande Lisboa (10,5%), e entre os meios de transporte, o metro e o autocarro urbano são os mais utilizados em ambas as regiões, sendo o metro particularmente importante na Grande Lisboa (48,1% dos estudantes o utilizam) e no Grande Porto (com um uso de 39,5%). No entanto, os estudantes da Grande Lisboa mostram-se muito insatisfeitos com a cobertura e a qualidade da rede de transportes, enquanto os do Grande Porto demonstram uma maior satisfação com os serviços prestados, nomeadamente com o metro e os autocarros urbanos.
“A formação superior é um direito e deve ser acessível para todos, independentemente da região de origem ou das condições financeiras”, afirma Alberto Amaral, coordenador científico do Conselho Consultivo do EDULOG. “O levantamento que foi feito neste estudo evidencia os desafios que os estudantes enfrentam no dia a dia e a importância de políticas públicas focadas em apoios reais e efetivos.”
EDULOG apresenta recomendações para diminuir as consequências das desigualdades socioeconómicas
O estudo sugere que as instituições de Ensino Superior e as políticas públicas poderiam beneficiar de um reforço nas estratégias de apoio social, com especial atenção para as áreas de alojamento acessível e suporte financeiro aos estudantes deslocados. A criação de mais alojamentos subsidiados, o aumento das bolsas de estudo e a revisão dos critérios de elegibilidade poderiam melhorar significativamente a experiência dos estudantes, diminuindo o peso das despesas pessoais e permitindo maior foco nos estudos.
Além disso, a expansão e melhoria dos serviços de transporte e da infraestrutura de ciclovias nas áreas da Grande Lisboa e do Grande Porto seriam passos importantes para facilitar o acesso dos estudantes aos campos universitários. Essas melhorias proporcionariam maior conveniência, mas também promoveriam opções de transporte sustentáveis, alinhando-se com as expectativas e necessidades dos estudantes. “Esta análise é um alerta sobre a urgência de se criar condições mais justas e equitativas para o acesso ao Ensino Superior nas maiores áreas urbanas do país, promovendo soluções que facilitem o percurso académico dos jovens e que contribuam para um futuro mais inclusivo e preparado”, conclui Alberto Amaral.
Autores do estudo:
António Magalhães
Maria José Sá
Joyce Aguiar
Daniela Pinto
Este estudo foi desenvolvido no âmbito de um projeto de investigação do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES), apoiado pelo EDULOG, o think tank para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo.
A consultar:
Sobre o EDULOG:
O EDULOG é uma iniciativa da Fundação Belmiro de Azevedo que tem como objetivo contribuir para a construção de um sistema de educação de referência através da investigação científica com base da compreensão dos desafios da Educação; a partilha e a discussão dos resultados de investigação e a informação das políticas públicas para a inovação e a mudança na Educação.