· Apesar das dificuldades, 81% dos professores afirmam que ser docente foi a sua primeira escolha profissional e 70% escolheriam novamente esta carreira. Contudo, entre os professores mais jovens, um em cada dois admite abandonar a carreira nos próximos anos.
· A formação contínua é uma prática transversal a quase todos os professores. Professores mais jovens, efetivos e do setor público investem mais em formação; a intensidade diminui com a idade, experiência, escalão e precariedade do contrato de trabalho.
· As escolas em Portugal apresentam um desempenho global intermédio nas práticas de gestão. Destacam-se, no entanto, pela positiva em domínios como o planeamento baseado em dados dos resultados escolares dos alunos e ações orientadas para a melhoria contínua desses resultados
· Nas práticas de gestão com impacto direto na atividade docente, menos de metade dos docentes refere contacto regular com a direção em aspetos ligados à atividade pedagógica, em contraste com os diretores, que reportam níveis muito mais elevados, revelando uma grande assimetria de perceções.
· As metodologias de aprendizagem ativa estão a ganhar espaço: mais de metade dos docentes recorreu à gamificação no último ano letivo.
· Dois em cada três professores já recorreram a ferramentas de Inteligência Artificial, sinalizando disponibilidade para o seu uso, mas apenas em tarefas pontuais, o que aponta para uma adoção ainda incipiente.
Lisboa, 18 de setembro de 2025 - Para os professores, a saúde mental e o bem-estar são as necessidades de intervenção mais urgentes na carreira docente, assim como o desenvolvimento de estratégias de sala de aula para lidar com a indisciplina. Estas são algumas das principais conclusões do estudo “A Voz dos Professores: Motivações, Desafios e Barreiras ao Desenvolvimento da Carreira”, promovido pela Fundação Semapa – Pedro Queiroz Pereira e desenvolvido por investigadores da Nova SBE e da Universidade do Minho, apresentado esta quinta-feira.
A melhoria das condições de trabalho — com destaque para a redução da carga administrativa e a modernização das infraestruturas — e o reforço do apoio à inclusão e diversidade, através da presença de mais co-docentes, mediadores e técnicos de educação especial, são também apontados pelos professores como temas prioritários.
Cerca de 84% dos professores dizem trabalhar mais horas do que as contratadas, sendo que perto de metade declara acumular mais de nove horas extraordinárias por semana. Além disso, em média, 12% dos alunos nas turmas são migrantes ou têm outra língua materna que não o português, e nove em cada dez professores têm pelo menos um aluno com necessidades educativas especiais, sinais claros da crescente diversidade em sala de aula.
O inquérito, que envolveu mais de 4000 professores e diretores de escolas públicas e privadas em todo o país, traça um retrato das necessidades e desafios sentidos no quotidiano docente, mas também evidencia a resiliência, o gosto pelo ensino, e o compromisso dos professores portugueses com o futuro da educação. Ao mesmo tempo, visa contribuir para informar e moldar políticas e práticas de gestão escolar, valorizando o contributo de todos os docentes e promovendo melhores condições de trabalho e de aprendizagem.
No estudo, os professores acrescentaram ainda como áreas de melhoria a relação com as famílias e a comunidade, bem como a definição de trajetórias de carreira mais claras, apoiadas por programas de mentoria e formação em áreas emergentes.
Apesar das dificuldades, 81% dos professores afirmam que ser docente foi a sua primeira escolha profissional e 70% escolheriam novamente esta carreira. O gosto pelo ensino, a relação com os alunos e o sentimento de missão são os principais motores da permanência na profissão. A maioria dos professores aponta os alunos como a principal fonte do seu reconhecimento (42%), muito acima da sociedade em geral (15%).
Ainda assim, um em cada cinco professores pondera abandonar a carreira nos próximos cinco anos, percentagem que sobe para 54% entre os mais jovens, abaixo dos 30 anos, o que reforça a importância de criar condições para a retenção e valorização destes profissionais.
Entre os professores com 60 anos ou mais, sete em cada dez planeiam reformar-se assim que possível. Contudo, 30% admitem prolongar a carreira além da idade mínima de reforma, motivados, sobretudo, pelo prazer de ensinar (77%).
Há uma inclinação expressiva entre os docentes do setor privado para transitar para o ensino público, com 42% a equacionar essa mudança.
A importância da integração e da formação
Cerca de 60% dos professores consideram que os seus colegas em início de carreira chegam às escolas com pior formação pedagógica e científica, mas poucos conhecem programas formais de acolhimento — uma discrepância face ao que os diretores reportam. Ainda assim, 6 em cada 10 professores mostram-se disponíveis para apoiar os mais novos através de mentoria.
A formação contínua, por sua vez, é praticamente universal: com 99% dos docentes a participarem em ações de formação nos últimos dois anos, sobretudo nas áreas de tecnologias educativas, atualização disciplinar e metodologias pedagógicas. Porém, a perceção de aplicabilidade varia, sendo mais forte quando a formação é pedagógica ou ligada à área disciplinar, traduzindo-se mais diretamente em práticas de sala de aula. O investimento em formação é maior entre professores mais jovens, efetivos e do setor público, diminuindo com a idade, experiência, escalão e precaridade do contrato de trabalho.
Práticas de gestão escolar com desempenho intermédio
Globalmente, as escolas em Portugal apresentam um desempenho intermédio nas práticas de gestão. Destacam-se, com resultados acima da média, áreas como o planeamento baseado em dados dos resultados escolares dos alunos ou a orientação para a melhoria contínua das práticas pedagógicas. Em contraste, observam-se níveis abaixo da média em dimensões como a personalização da aprendizagem ou a capacidade de reconhecer e promover os melhores desempenhos dos docentes.
Professores e diretores convergem na perceção de que existem práticas estruturantes de gestão escolar, mas divergem quanto à sua frequência. Menos de metade dos docentes refere contacto regular com a direção em aspetos ligados à atividade pedagógica, em contraste com os diretores, que reportam níveis muito mais elevados. Esta discrepância é especialmente visível no setor público, sugerindo que muitas práticas não são percecionadas de igual modo por todos os intervenientes.
Utilização de IA e gamificação generalizada
Quanto à adoção da tecnologia, em linha com as tendências e necessidades atuais, verifica-se um uso generalizado de ferramentas digitais por parte dos docentes, com dois em cada três a afirmarem que usaram Inteligência Artificial no ano letivo passado, embora num número muito limitado de tarefas. Mais de metade dos professores recorreu à gamificação no último ano letivo, e quase metade utilizou trabalho por projeto ou multidisciplinar, evidenciando a valorização do envolvimento ativo dos alunos no processo de aprendizagem.
O nível de proficiência digital, no entanto, é desigual: docentes mais jovens e de escolas privadas fazem maior uso de ferramentas digitais, tanto no apoio pedagógico como em tarefas administrativas, revelando assimetrias que podem acentuar desigualdades entre alunos.
“Os professores são o principal motor do desenvolvimento dos alunos e do país. Os resultados deste estudo reforçam a importância de os escutarmos e de criarmos condições para que possam exercer a sua missão com motivação, reconhecimento e esperança no futuro. A Fundação Semapa - Pedro Queiroz Pereira estará ao lado dos professores, promovendo iniciativas que contribuam para uma escola mais inclusiva, inovadora e sustentável”, afirma Margarida Rebocho, CEO da Fundação Semapa – Pedro Queiroz Pereira.
Com os resultados do inquérito, a Fundação Semapa – Pedro Queiroz Pereira assume o compromisso de continuar a ouvir e apoiar os professores, promovendo projetos que valorizem o seu papel e respondam às necessidades identificadas. Sem substituir o papel do Estado, a Fundação pretende ser parceira na construção de soluções, reforçando a sua missão de promover a educação.
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