3.ª edição do BOOK 2.0, com o tema “A Reinvenção das Espécies”, reuniu na Fundação Champalimaud, em Lisboa, mais de 700 participantes, 40 oradores e 20 parceiros, com destaque para Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, e especialistas internacionais.
É o maior evento europeu de discussão sobre o futuro dos livros e da leitura.
APEL apresentou um diagnóstico abrangente sobre o estado da leitura e do mercado livreiro em Portugal, defendendo a necessidade urgente de uma estratégia nacional para a leitura e literacia que constitua um compromisso coletivo transversal a vários setores.
76% dos portugueses afirma ter hábitos de leitura, mas apenas 58% comprou livros em 2024. Mercado editorial português atinge 204 milhões de euros (+9% face a 2023).
Alertas científicos sobre ecrãs: neurocientista da UCLA, defende cérebro “biliterate" para preservar a capacidade de leitura profunda na era digital.
Suécia como modelo: 69 milhões de livros vendidos vs. 14 milhões em Portugal (ambos com 10 milhões de habitantes).
Lisboa, 9 de setembro de 2025 - A terceira edição do BOOK 2.0 - O Futuro da Leitura reuniu mais de 700 participantes, 40 oradores e 20 parceiros, na Fundação Champalimaud para dois dias de debate multidisciplinar sobre os desafios do livro, da leitura, da literacia e do mercado editorial no século XXI.
“Esta terceira edição realiza-se sob o mote ‘A Reinvenção das Espécies’, que pressupõe um processo evolutivo de adaptação e transformação dos seres vivos ao tempo e ao espaço”, disse Miguel Pauseiro, Presidente da APEL – Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, na sessão inaugural. “É o que precisamos para o livro, enquanto bem material e imaterial, e para o setor, enquanto criador de riqueza e de património cultural.”
“O tema vem muito na linha de como é que nos conseguimos transformar enquanto sociedade, face ao momento que estamos a viver”, afirmou Silvia Pazos Rodriguez, diretora do BOOK 2.0, antes de apresentar uma mostra de fotografias da autoria de Pedro Sobral, em tributo ao anterior Presidente da APEL, que nos deixou em dezembro de 2024.
“É um projeto de muita gente, mas nestas coisas há sempre um mentor, alguém que é a força motriz. Pedro Sobral deixou uma marca fundamental no setor livreiro, e não só: deixou uma marca em todos nós. E não fazia sentido começar este BOOK 2.0 sem o recordarmos.”
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi uma das figuras centrais do evento. Em conversa com Cristina Ovídio, editora e fundadora da Livraria Menina e Moça, defendeu o livro como "fator de democracia" e deixou como mensagem final que ler “enriquece a capacidade de compreender e aceitar os outros” e que "não ler é renunciar ao futuro". O Presidente sublinhou ainda que “preservar a essência do Plano Nacional de Leitura é fundamental”.
Das cerca de 30 sessões, debates e entrevistas do BOOK 2.0 resultaram recomendações abrangendo quatro áreas principais: Tecnologia e Inteligência Artificial (com destaque para a defesa do copyright e o impacto da IA no sector editorial); Língua Portuguesa (e preservação da identidade cultural num mundo globalizado); Literacia e Educação (melhoria dos níveis de literacia em Portugal); e Educação Digital (porquê educar e criar hábitos de leitura na era digital).
ALERTAS CIENTÍFICOS SOBRE O IMPACTO DO DIGITAL NOS JOVENS
Maryanne Wolf, neurocientista da UCLA e diretora do Centro de Dislexia, alertou para os riscos da cultura digital no desenvolvimento cerebral. Wolf apresentou evidências científicas de que "o skimming é a nova normalidade", com crianças a registarem 27 distrações por hora, e defendeu o conceito de um cérebro “biliterate", isto é, competente tanto na leitura digital quanto analógica.
Adriana Stacey, psiquiatra e conselheira da organização ScreenStrong, reforçou estes alertas com recomendações médicas específicas: evitar contacto com ecrãs até aos 13 anos; telemóveis proibidos nas escolas desde o toque de entrada até ao de saída; social media e smartphones só a partir dos 18 anos. "O vício em ecrãs imita o de substâncias, pois despoleta surtos de dopamina que mantêm as crianças viciadas", alertou.
Para combater o vício dos telemóveis, a psicóloga clínica americana Meg Jay apresentou a leitura enquanto "comportamento de substituição", detalhando os cinco principais benefícios de ler livros: felicidade, saúde, inteligência, foco e sociabilidade.
PORTUGAL E A EUROPA: UM CONTRASTE REVELADO
Os dados apresentados pelo estudo da APEL revelam um paradoxo preocupante. Enquanto o mercado editorial nacional atingiu 204 milhões de euros em 2024 (+9%), Portugal continua a ter o indicador per capita de compra de livros mais baixo entre países europeus com desenvolvimento semelhante: apenas 1,3 livros por habitante.
O contraste com a Suécia é revelador. Johan Pehrson, anterior Ministro da Educação da Suécia, explicou como no seu país, com uma população equiparável à portuguesa (10 milhões de habitantes) se vendem anualmente 69 milhões de livros, com 79% dos pais suecos a lerem histórias aos filhos até aos 5 anos de idade. Explicou também como a digitalização da educação e a introdução de manuais digitais levou a piores resultados, defendendo o regresso ao essencial.
Lúcia Dellagnelo, da OCDE, apresentou dados dos estudos PISA e PIAAC mais recentes, que mostram a evolução dos níveis de literacia em Portugal comparativamente a outros países, e confirmou que apenas 5% dos portugueses apresentam competências de leitura avançadas, sendo que Portugal se encontra abaixo da média em todos os grupos etários.
A REVOLUÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
A conferência dedicou especial atenção ao impacto da IA no setor editorial. Daniel Benchimol, da Academia Proyecto451, deu uma masterclass na qual revelou dados impressionantes: o custo de processamento de textos complexos através de sistemas de IA desceu de 24 dólares em 2023, para 0,05 dólares em 2025. "Estamos perante cinco transformações fundamentais: o declínio do valor económico do conhecimento, a IA como destinatária das nossas publicações, a duplicação da capacidade de realizar tarefas complexas a cada 7 meses, a era da personalização absoluta e o desenvolvimento em tempo real", explicou.
Na véspera, Nadim Sadek, autor e CEO da Shimmr AI, fez uma apresentação sobre inteligência artificial e criatividade no contexto editorial, onde defendeu o conceito de "allied intelligence", em vez de "artificial intelligence", enquadrando a IA como um colaborador criativo.
Axel Voss, Membro do Parlamento Europeu, defendeu a proteção do direito de autor, sem travar o avanço da IA na Europa. Sublinhou que a solução passa por um sistema de licenciamento simples e não fragmentado, sobretudo para imprensa e livros, num ecossistema digital cada vez mais centralizado.
DIVERSIDADE LUSÓFONA E SUSTENTABILIDADE
O BOOK 2.0 destacou também a força crescente da língua portuguesa no mundo, com oradores como o brasileiro Pedro Pacífico, fundador do Book.Ster, ou o escritor José Eduardo Agualusa, entre outros, a participarem em debates sobre como as redes sociais aproximam o espaço lusófono e como se prevê que nas próximas décadas África se torne o continente onde mais pessoas falarão português.
Sonia Draga, presidente da Federação de Editores Europeus, apresentou o manifesto da FEP (Federation of European Publishers), destacando três pilares: criar, inovar e sustentar, com especial atenção aos direitos de autor na era da IA e à redução do IVA dos livros.
A conferência incluiu ainda apresentações sobre iniciativas sociais transformadoras, como o projeto Nuvem Vitória, de Fernanda Freitas, que já contou mais de 126.000 histórias a crianças hospitalizadas através de 1300 voluntários, e a experiência de Dino D'Santiago, que revelou o seu primeiro livro, “Cicatrizes”, enfatizando a importância da leitura na sua vida como "salvação" pessoal.
Parceiros 2025: Uma missão coletiva pelo futuro dos livros, da leitura e da literacia
A edição de 2025 do BOOK 2.0 contou com o Alto Patrocínio de Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa, e tem o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, Turismo de Lisboa, Plano Nacional de Leitura, DGLAB, Rede de Bibliotecas de Lisboa – BLX, Junta de Freguesia de Belém, Teresa e Alexandre Soares dos Santos Iniciativa Educação, International Publishers Association, World Literacy Foundation, Federation of European Publishers, European and International Booksellers Federation, Publishing Perspectives, Clube das Mulheres Escritoras, Núvem Vitória, Tale House, C. Santos VP, e Altis Belém, tendo como parceiro estratégico e produção a Vanilla Project – Inspiring Change.
A quarta edição do BOOK 2.0 está já confirmada para 2026, consolidando a sua posição como o maior fórum interdisciplinar sobre leitura, literacia e futuro digital na Europa.
Sobre o BOOK 2.0
O BOOK 2.0 - O Futuro da Leitura é uma iniciativa anual da APEL que se estabeleceu como o principal fórum interdisciplinar na Europa para o debate sobre livros, leitura, literacia e conhecimento. O evento reforça o seu papel como plataforma científica e política para enfrentar os desafios da literacia no século XXI.
Uma iniciativa da APEL
Promovido pela APEL – Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, o BOOK 2.0 assume-se como um ponto de encontro privilegiado para pensar o livro e o seu papel numa sociedade em transformação. A APEL tem por missão promover o desenvolvimento sustentado do setor do Livro em Portugal, a defesa dos direitos de autor, a diversidade editorial, a qualificação contínua dos profissionais do setor e a realização das ações necessárias à promoção das atividades editorial, distribuidora e livreira, no território nacional ou no estrangeiro que beneficiem coletivamente os titulares de direitos representados pela associação.
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